O tempo é implacável, mas algumas marcas resistem a ele com a mesma força com que nasceram. É esse o caso de Davi Sacer 15 anos, um projeto que não apenas revisita canções emblemáticas, mas também reestrutura a narrativa de uma das fases mais potentes da música congregacional brasileira.
Lançado pela Som Livre e produzido por Ronald Fonseca e André Cavalcante, o álbum faz uma curva no tempo e nos leva aos anos entre 2003 e 2009 — período em que o Toque no Altar, posteriormente Trazendo a Arca, moldou uma geração de adoradores com letras intensas, melodias memoráveis e interpretações carregadas de verdade.
Depois do impacto causado pelo fim da formação clássica do grupo, Davi Sacer foi o primeiro a apontar uma rota solo. “Deus Não Falhará” (2008) ainda trazia, em sua estrutura, a sombra sonora do Trazendo a Arca. Era a mesma essência, conduzida por Ronald Fonseca e com a colaboração de nomes como Deco Rodrigues e Luiz Arcanjo.
A separação, entretanto, não foi meramente física: ela revelou duas visões complementares, mas que não conseguiam mais coexistir no mesmo recipiente criativo. Arcanjo e Sacer começaram a desenhar caminhos que se cruzavam em memória, mas se afastavam em propósito.
O álbum Davi Sacer 15 anos é uma resposta honesta a esse passado. Não há aqui o desejo de competir com versões originais, mas sim de reconfigurar sentimentos. Ao trazer de volta faixas como “Em Ti Esperarei” e “O Que Dizer”, Sacer confere uma nova camada interpretativa a composições que já eram densas.
A regravação de “Em Ti Esperarei”, por exemplo, é uma das maiores afirmações do disco. Não apenas por sua potência poética, mas pela simbologia de um reencontro espiritual com a própria história. Se antes era a dor do recomeço, agora é a maturidade de quem entendeu o valor do processo.
Davi Sacer 15 anos: Parcerias que resgatam e recriam
E mesmo que Verônica Sacer, em “Me Arrebataste”, tenha uma interpretação mais neutra, sua ausência afetaria diretamente o impacto emocional da obra. É nessas nuances que percebemos como o projeto foi arquitetado com esmero e consciência artística.
Mais do que uma simples coletânea de sucessos, Davi Sacer 15 anos é um reposicionamento narrativo. Um álbum que reconhece o valor do coletivo no ministério e que devolve à figura de Ronald Fonseca o crédito como arquiteto sonoro de uma geração.
Ao abrir mão de sua carreira solo para mergulhar no passado, Davi Sacer declara que a força do Trazendo a Arca nunca foi um nome, e sim a união de propósitos. E mesmo separados, esses propósitos continuam ecoando com vigor. A mensagem que fica é clara — quando o louvor é sincero, o tempo apenas o refina.
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